Uma pergunta dessas incomoda bastante, pois, não sabemos por onde andam aqueles que, de alguma forma, têm fome e sede pelas coisas do alto. Parece que desapareceram. Onde estariam aqueles que, como Davi, estão prontos a afirmar: Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus (Salmos 42: 1). Ou, como Enoque, que andou com Deus até ser trasladado (Hebreus 11: 5). Por acaso não há mais sedentos?
Encontraríamos alguém como Ana (Filha de Fanuel), com tão grande fome pelas coisas de cima, permanecendo em constante consagração? Sobre ela, diz Lucas: “E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia” (Lucas 2: 36, 37). Nesta ocasião o evangelista apresenta outro idoso, faminto por Deus. Trata-se de Simeão, um homem justo e temente a Deus […] e o Espírito Santo estava sobre ele (Lucas 2: 25).
Sobre estes idosos, resta-nos indagar: De onde tiraram tanta fome por mais de Deus? Por acaso não estavam satisfeitos em ter servido ao Senhor na mocidade? A resposta é: não! Não estavam satisfeitos, pois sabiam que Deus estaria com eles até a morte, e desfrutariam desta graciosa presença. Estavam atentos ao ensino do salmista, que afirma: “Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos, para anunciar que o Senhor é reto [...]” (Salmos 92: 14,15).
E, além destes, o que dizer de Jonh Wesley ou Jonathan Edwards? Ou Leonard Ravenhill, que pregou até em idade avançada? Ou David Wilkerson, este homem do coração inflamável, que fundou a Times Square Church? Ou ainda, de A. W. Tozer [1], que respirava o ar rarefeito do céu, enquanto caminhava na terra? A resposta é uma só: eles tinham uma fome insaciável por mais de Deus.
Confesso que conheci pessoas que tinham fome de Deus (e alguns ainda têm). E, haviam certas particularidades nelas: eram diferentes no proceder, no falar e na maneira de conduzir a vida. Embora imperfeitas, não cessavam de lutar para alcançar uma vida plena no Espírito. Era isso que as levava (e ainda leva) a ter fome das coisas de cima.
Lembro-me de uns idosos, com os quais aprendi coisas grandes. Eu os ouvia com tanta atenção, tentando captar a voz de Deus. Eles possuíam tanto do céu, que eu os visitava, visando adquirir um pouco daquela sabedoria. Certamente, não foi a idade que os fez ter mais de Deus, porém, uma vida pautada em Cristo e, sobretudo, “crucificada” para o mundo. Este é o caminho dos famintos por Deus, nele não há atalhos nem qualquer coisa que evite o sofrimento da crucificação do ego. Eis o motivo porque poucas pessoas têm fome por mais de Deus.
Por outro lado, os famintos desfrutam de muitas vantagens. Eles vivem a jornada terrena confiando na presença do Altíssimo. Para eles, comer do pão vivo e beber da água viva faz todo o sentido, pois, sabem que são alimentados pelo próprio Deus (o mesmo que não deixou o povo perecer no deserto, mas, deu-lhes o maná). Eles sabem: o que são, onde estão e para onde vão. Andam por fé, por isso, tais indagações não lhes afetam quanto a tranquilidade da alma, pois, suas respostas são oriundas da graça que receberam. Para eles, suas vidas começaram em Deus, estão em nEle e voltarão para Ele.
A fome por Deus fez Paulo se tornar um desbravador do evangelho; levou Estevão a pregar até mesmo à beira da morte; fez de Timóteo um grande pastor (mesmo tendo sido um jovem tímido); fez de Leonard Ravenhill uma luz na escuridão. São tantos exemplos, que falta espaço para apresentá-los. Mas, uma única coisa é certa: todos eles possuíam uma imensa fome pelas coisas de Deus!
[1] TOZER, A. W. Em busca de Deus: minha alma anseia por ti. São Paulo, Editora Vida, 2016.