Além do véu

 Além do Véu


[...]. Esse véu separará o Lugar Santo e o Santo dos Santos (Êxodo 26: 33b – KJA1).


  Esse texto remete ao tabernáculo, a Tenda de Deus. Aquele local em que Deus descia para falar com o Sumo Sacerdote e lhes ministrar novidades para os tempos futuros. Essa tenda é um símbolo perfeito da comunhão com o criador; uma amostra da possibilidade ilimitada que possuímos enquanto servos do Altíssimo.

Somos todos instruídos sobre a distribuição espacial dos elementos e dos ambientes no tabernáculo; sabemos que havia um Átrio, o Lugar Santo e o Santo dos Santos. E ainda, conhecemos a existência da pia de bronze, do candelabro e da mesa da proposição. Entretanto, é também verdadeiro, que cada um destes itens possui um significado especial; por isso, meditemos no versículo proposto.


 O paradoxo da comunhão


 É incrível, mas é verdadeiro: a comunhão só pode ser autêntica se proceder de uma separação! Isso é chocante, porém, coerente. Olhemos para o sumo sacerdote e sua “separação” em relação aos demais para adentrar, sozinho, ao Santo dos Santos. Alí, não havia como ser ajudado, ele tinha que estar purificado de seus pecados e ciente do risco que corria.

A separação possui, para fins de entendimento desta reflexão, dois significados: o isolamento, a forma mais comum de uso deste termo; e, a santificação, uma maneira mais “espiritual” de entender essa palavra. No primeiro caso, a começar pela família a que os sacerdotes deveriam pertencer, se circunscreve até o fato de adentrar “sozinho” aquele lugar de manifestação real da presença divina. No segundo, o fato de que cada um dos escolhidos (ou separados) para aquela função teria que passar por alguns preparativos, se santificando para cumprir suas atribuições.

Isso parece ser bem claro para quem possui certa familiaridade com os textos sagrados; não vejo razões para ampliar as explanações nesse sentido. Sabe-se que nenhum dos homens de Judá, ou de Gade, ou ainda, de Zebulom poderia exercer tal ofício; essa era função designada por Deus aos descendentes de Levi. Aqui está uma separação! Mas, os demais israelitas tinham o dever de sustentar esses irmãos, demonstrando comunhão para com eles. Em contrapartida, os levitas os apresentavam a Deus; assim, a comunhão era recíproca.

Porém, retomando o versículo escolhido, vejamos o paradoxo da comunhão implícita no mesmo. Alguns estavam autorizados a pisarem no Lugar Santo, mas apenas o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos. E, esta repartição era separada por um véu, dali para frente era a comunhão individual que possibilitava representar a multidão que o aguardava do lado de fora, ansiosa para saber o que Deus lhe mostraria naquele encontro exclusivo.

E, em se tratando de Nova Aliança, vejamos o que podemos aplicar em nossas vidas.

O paradoxo permanece

 Tendo Cristo “rasgado o véu”, por meio de sua morte, todo aquele que nele crer poderá obter a senha de acesso a esse lugar maravilhoso. Ou seja, qualquer pessoa que tenha nascido de novo pode acessar o Santo dos Santos em se tratando dos tempos da Nova Aliança. Contudo, o paradoxo permanece; santificação e separação continuam sendo os ingredientes necessários para o cultivo e a manutenção da comunhão.

O que pretendo afirmar aqui, é apenas uma verdade que a experiência tem sido cordial em apresentar a todos que se detêm nessa observação. Mesmo no chamado tempo da graça a estrada daquele lugar de intimidade com o Pai Celestial continua sendo uma rota de separação. Não espere que todos te compreendam quando decidires entrar no Santo dos Santos; isso não vai acontecer!

A santificação em si causará a separação. É um processo doloroso, mas, gratificante. E, separação aqui, se trata de isolamento; aquela necessidade de se afastar, ainda que por um curto período de tempo, até mesmo de amigos bem próximos. Tendo feito isso, se dedicar a Deus em oração fervorosa e intensa devoção. Cristo fazia isso regularmente; às vezes, passava a noite inteira em oração, sozinho.

Desconheço alguém que tenha obtido maior comunhão do que o Senhor Jesus. E, ele mostra, claramente, que o paradoxo da comunhão é verdadeiro. Não se atravessa o véu acompanhado; o lugar que o sucede é tão perfeito, que Deus optou por deixar que cada pessoa obtivesse suas experiências sozinha.

E, o outro lado do paradoxo é ainda mais enigmático; como pode alguém se isolar e exalar comunhão? Pergunte a Cristo?  Ele se isolava com frequência, mas, quando voltava realizava milagres e atraía pessoas a si como ninguém o fizera antes dele! Quanta comunhão exala do Santo Cordeiro!

 

O outro lado do paradoxo

 É aqui, o lugar onde a nossa alegria floresce. Saber o quanto esse isolamento será produtivo, traz esperança! Se por um lado, a busca pela comunhão exige isolamento, por outro, essa procura resulta em mais comunhão com Deus e com os santos. Este é o outro lado do paradoxo!

A vantagem de sair do Átrio, caminhar até o Lugar Santo e correr os riscos ao entrar no Santo dos Santos, é incalculável. É o único lugar onde é possível receber os segredos de Deus. Ainda assim, bem poucas são as pessoas que avançam na caminhada interior, isto é, na vida de profunda comunhão com Deus.

Os riscos eliminam o ânimo de muita gente que afirma desejar mais de Deus; o medo da rejeição, quando necessitar se isolar por algum momento, ou, os receios da incompreensão da parte dos que estão mais próximos, leva muitos a se contentarem apenas nos Átrios. Alguns, mais ousados que estes, tentam ir até o Lugar Santo, e conseguem com algum esforço. Contudo, ficam paralisados alí, olhando para o véu e imaginando o que poderia acontecer se o atravessasse.

Porém, há os que não se importam com opiniões alheias a respeito de sua caminhada com Deus; como João Batista ou Enoque, avançam e atravessam o véu! Experimentam revelações profundas da parte de Deus e as compartilham com os demais, mesmo sendo incompreendidos por milhares dos que os cercam.

Além disso, todos somos incentivados a atravessar o véu, o autor da Carta aos Hebreus nos oferece uma direção: [...] temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos, mediante o sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que Ele nos descortinou [...] (Hebreus 10: 19 e 20a - KJA). Essa declaração deixa patente que não há desculpas para ficar dando voltas pelo Átrio ou até mesmo no Lugar Santo, todos, sem exceção, podem acessar o Santo dos Santos e desfrutar, mais intensamente, da graciosa presença do Altíssimo!

 

1. KJA - Versão bíblica King James Atualizada.

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